segunda-feira, dezembro 11, 2006

É bom, mas...

Depois de uma semana de descanso, volto a atualizar o blog listando algumas observações desses meus primeiros dias no Brasil. Vamos às "questões" e aos fatos:

Logo ao chegar no aeroporto de São Paulo nota-se que o país é mesmo muito comunicativo. Todas as pessoas conversam, mesmo que não se conheçam. Basta estar junto em um elevador ou em alguma fila, pra começar o bate-papo. A voz geral nos terminais aéreos é o atraso nos vôos, que virou uma coisa rotineira nos aeroportos brasileiros, por incompetência do governo federal.

Ao aguardar na fila, para pegar o ônibus da empresa aérea que faz o trajeto entre o aeroporto internacional de São Paulo e o doméstico, de onde eu seguiria para Vitória, o funcionário da empresa começa a me contar alguns dramas. Era domingo e ele estava trabalhando para um colega que não pôde ir porque teve o irmão evangélico e trabalhador morto pela polícia, por engano. Os policiais entraram na festa de aniversário do rapaz, de 21 anos, e atiraram, matando sete inocentes, num bairro da periferia paulistana.

O mesmo funcionário contou ainda que um amigo dele de infância, que trabalhava como porteiro durante a noite, ao chegar em casa, logo de manhãzinha e após uma longa jornada de trabalho, ia guardando sua moto na garagem quando foi abordado pela polícia. Foi confundido com alguns assaltantes que tinham acabado de agir na região e foi levado preso. Ficou oito meses na cadeia, mesmo não tendo sido reconhecido por testemunhas. Só saiu da prisão depois que o pai vendeu a casa onde morava para pagar um advogado.

Chegando no aeroporto doméstico, vejo um pequeno tumulto. No centro da confusão estava uma mulher carioca, ao berros, vermelha de raiva, atirando roupas da mala na funcionária da companhia aérea, por esta estar lhe cobrando um absurdo por excesso de bagagem. A funcionária fazia cara de paisagem enquanto calças e camisas voavam. A carioca dizia estar sendo assaltada e, num arrombo brasileiro de revolta, não estava nem aí pro escândalo. Não pude conter um sorriso.

Já na sala de espera para vir até Vitória, um senhor se aproxima e pede uma informação. Depois começa a falar e falar e me conta a vida dele toda, em detalhes. Do mesmo jeito que veio, foi embora, acredito que mais aliviado por ter desabafado. Mais um sorriso.

Já no avião ouço docemente o "sotaque" brasileiro do comandante, dando as boas vindas aos passageiros. Fico encantado com a musicalidade da língua, com a expressividade das palavras entoadas e entendo porque o Brasil é um país musical.

Chegando em Vitória, o céu azul, o sol farto, o clima e o cheiro de cidade praiana é como um acalanto. As pessoas estão bronzeadas, alegres e sorridentes.

Nos jornais, as reportagens falam sobre o verão, as crônicas apelam sempre ao emocional, as notícias cobram dos políticos soluções para problemas sociais, com força e de forma quase agressiva. Os colunistas, irônicos, demonstram o estilo de escrita vigente no país. São críticas muito bem humoradas que me despertam também mais sorrisos.

Entre prós e contras não tenho dúvidas: o Brasil é uma delícia. A conclusão que chego é próxima a de Tom Jobim que, ao se referir a Nova Iorque, disse que morar no exterior é bom, mas é uma merda, e morar no Brasil é uma merda, mas é bom. O sorriso não cabe aqui, mas sim uma grande expressão de introspecção. Melhor carregar o bom do país dentro de você, onde quer que esteja, mesmo que esteja no próprio Brasil.

11 comentários:

Anônimo disse...

Pois é, Sérgio. O teu relato dá-nos conta de uma rosa com muitas espinhas.
Abraços e boa estadia na terra do sol, praia e corpos oleados:-)

The unknown human who sold the world disse...

É o esplêndor do começo das férias!!!!! rs

Anônimo disse...

querido amigo, que bom saber que chegou em nossa ilha. vou te ligar esta semana pra tomarmos um chopp bem gostoso ok? estou adorando ler sobre sua dissertação de mestrado. ano que vem vou tentar meu mestrado na ufes, em administração, sobre responsabilidade social empresarial. beijos, lindo! E seja bem vindo!

Anônimo disse...

ah, sim: estou de fééééérias! rsrs :) beijo!

Sergio Denicoli disse...

Oi Silvino, apesar dos problemas o lado bom é muito bom, portanot, supere, em muito, os aspectos negativos.

The Human, espero que o esplendor continue, sempre, não só nas f+erias rs.

Caroil, tô esperando seu telefonema. Já passei meu celular pro Gux. Bjs

leticia goncalves disse...

Ontem numa conversa, uma de minhas professoras falava sobre a expectativa dos estrangeiros ou mesmo dos brasileiros que voltam ao país depois de um tempo.

Sair do inverno europeu para o Brasil deve despertar imagens de praia e sol...Decepção, aqui em Vitória por estes dias...só chove!

Mas eu não estou de férias... o sol através do vidro da minha sala é um ultraje! Então, que continue chovendo!

kkkkkkkkkkkkk

Com sol ou com chuva, bem vindo de volta, Sérgio.

E concordo com vc e com o Tom Jobim, morar aqui é uma m., (ou uma lama) mas é bom!

Muitos sorrisos pra vc.

Sergio Denicoli disse...

Oi Letícia,
Ainda consegui uns bons dias de praia e espero que essa chuva de verão passe logo (e vai passar, claro!). Quanto às expectativas, não tinha muitas no regresso, mas, com certeza, nossa bússula para avaliar o nosso país tem mais norte depois que saímos. Recomendo. Bjs!

Anônimo disse...

Só queria provocar-te um bocadinho, Sérgio. Imagino como deves estar a sentir no Brasil. Talvez o mesmo que eu sentiria, se tivesse acabado de desembarcar no aeroporto da Praia. Não me importava nada de passar o Inverno de 22º de Cabo Verde. Infelizmente, querer não é poder. Aproveite. Tudo de bom.
Silvino Évora

Sergio Denicoli disse...

Silvino, fica, desde sempre, convidado a visitar o Brasil!

Abç CARA

Silvino Évora disse...

Olha, que vou. Não faça convites desses e depois vais te arrepender :-)
Abraços

Anônimo disse...

oi prof!o melhor sítio do mundo é o nosso: a nossa terra, a nossa casa!É como o nosso brinquedo preferido, uma boneca por ex.Não importa que esteja estragada,esfarrapada,partida; iremos amá-la acima de todos os outros brinquedos.
Continuação deboas férias.
Bjokas desta sua aluna.
Patrícia