quinta-feira, abril 05, 2007

O jornalismo do futuro: o auge dos vídeos e o fim do impresso

Não é a lógica dos blogs ter posts gigantes. Em geral trabalha-se com a idéia de jornalismo em camadas, ou seja, que permite ao usuário se aprofundar no assunto que deseja, a partir dos hiperlinks. No entanto, hoje vou abrir uma exceção. É que o tema sobre o futuro do jornalismo foi tão bem retratado na reportagem transcrita abaixo, que vale a pena republicá-la aqui na íntegra. Não deixe de ler!!


"Os tradicionais meios de comunicação norte-americanos enfrentam tempos difíceis. Ainda que a internet crie novos problemas como a questão dos direitos autorais e da credibilidade, sua generalização tem trazido mudanças radicais na imprensa mundial.


'Os principais donos das empresas da imprensa escrita norte-americana compreendem agora que perderão cada vez mais terreno' na batalha pela atenção dos leitores, disse recentemente o multimilionário Warren Buffett, acionista do jornal Washington Post.


'De fato, muitos dirigentes de jornais, cronistas e observadores dos principais acontecimentos mundiais não viram ou não se preveniram sobre o que estava acontecendo embaixo de seus narizes', ironizou.


De acordo com um recente estudo do centro de pesquisas Pew, 43% dos norte-americanos usam agora a internet para ter acesso às notícias, enquanto apenas 17% lêem primeiro os jornais nacionais.


Segundo o centro de pesquisas TNS Media Intelligence, os gastos com publicidade continuam a crescer, mas a passos lentos. Sem contar com as contribuições cíclicas dos Jogos Olímpicos e das eleições, a média do aumento tende a ser em torno de 3%.


Os gastos com publicidade em 2006 - ano em que se celebraram as eleições legislativas americanas - sofreram uma queda 3,3% nos jornais norte-americanos de circulação local. Já os da imprensa nacional só aumentaram 3,3%, segundo dados do TNS. A televisão também não apresentou números muito melhores, com um aumento geral de 5,3% em seus gastos publicitários. Este valor, no entanto, esconde o crescimento de 10,4% provocado pelas campanhas políticas. A publicidade comercial só apresentou aumento de 2,5%.


Com relação à publicidade, o grande vencedor foi mesmo a internet, que atrai tanto a publicidade política como a comercial. Contudo, apesar dos gastos com publicidade terem crescido 17,3% no ano passado, elas só geraram 9,76 bilhões de dólares. A quantia é vultosa, mas é menor se for comparada com o que geram os gastos globais da televisão (65,4 bilhões) e da imprensa (58 bilhões).


A cifra da internet é similar às inserções da rádio, que alcançaram 11 bilhões de dólares em 2006. O site de buscas Google, um gigante da internet, lançou a moda da publicidade em rede, que se adapta ao perfil de cada usuário, e é por isso que hoje atrai 30% do mercado publicitário da internet. O Yahoo!, seu principal rival, detém 20%.


A internet também permite aos usuários a possibilidade de não apenas ter acesso à informação, mas também ser parte dela, por meio da explosão de blogs nos meios de comunicação em rede. 'Nós vamos nos tornar nossos próprios editores. Daqui por diante, será o consumidor que estará no comando e não mais o jornalista', disse à AFP Tom Rosenstiel, diretor do Projeto para a Excelência do Jornalismo.


A expressão 'citizen journalist' (cidadão jornalista) já é corrente nos Estados Unidos, num momento em que o êxito fulminante de sites de trocas de vídeos, como o YouTube - comprado recentemente pelo Google - deu a cada um o poder de sair na frente das câmeras. Mas tudo isso põe à mesa a questão dos direitos de propriedade intelectual.


O grupo norte-americano de meios maciços de comunicação, Viacom, acaba de pedir judicialmente que o YouTube pague um bilhão de dólares por danos gerados pela utilização ilegal de seus produtos. E o exemplo recente de um vídeo 'fabricado', dirigido contra a candidata democrata à presidência Hillary Clinton, também gerou questionamentos acerca da credibilidade das informações veiculadas. A metamorfose dos meios vai mudar os hábitos de todos.


A sacrossanta televisão e seus programas de horário fixo darão lugar a sistemas de emissão contínua (TiVo), a vídeos escolhidos e a elementos como a nova iTV da Apple, que permite assistir ao material baixado da internet nos aparelhos de televisão convencionais. 'É um cruzamento entre internet e televisão, inimaginável há 10 anos. Dentro de dois anos, a televisão já não será mais uma caixa especializada, mas sim um dos elementos de uma rede doméstica sem fio', explicou Tim Hanlon, do centro de análises estratégicas Denuo.


Jornalismo impresso


Ler jornal ao lado de uma fumegante xícara de café se tornará, em breve, coisa do passado, quando a tecnologia digital e de vídeo substituir os veículos impressos de hoje, afirmam especialistas. 'Sabemos que as redes digitais de banda larga serão ampliadas, assim como as redes de banda larga sem fio', afirmou Andrew Nachison, presidente da Ifocos, assessor de mídia.


Nachison prevê que será possível acessar podcasts (transmissões baixadas da internet), mensagens de vídeo, assim como 'blogs', livros e sites na internet através de serviços de vídeo sem fio, como produto do desenvolvimento da tecnologia. 'É bastante óbvio que a conexão digital será como oxigênio para nossa cultura', comentou. 'Somos testemunhas de uma explosão na criação de vídeos e estamos ingressando em uma era na qual o vídeo estará em todos os lugares', estimou.


Estudos indicam que o número de leitores de jornais nos Estados Unidos está diminuindo, enquanto o ciberespaço ganha terreno. Um boletim recente do centro de pesquisas Pew em Washington revelou que 43% dos americanos utiliza a internet para se informar, enquanto apenas 17% têm como principal fonte um jornal impresso de alcance nacional.


Amy Eisman, chefe da escola de comunicação da American University de Washington, disse que os consumidores no futuro poderão receber as notícias na palma da mão. 'Vídeo, internet, áudio, entretenimento, temos a impressão de que mais e mais coisas estarão (disponíveis) em aparelhos portáteis', ressaltou Eisman. 'Haverá maior disponibilidade global de banda larga sem fio (...) e a informação provavelmente se baseará mais no visual do que no texto', acrescentou.


Nachison concordou, ao acrescentar que as mudanças tecnológicas permitirão que a informação convirja para um único aparelho. 'Um telefone, uma câmara de vídeo, um aparelho de GPS, um comunicador pessoal são o tipo de coisas que vemos hoje. É difícil saber o que teremos daqui a 10 anos', enfatizou. Segundo ele, os vídeos serão a mídia dominante para a informação, com consumidores que poderão baixá-los à vontade na internet ou nos telefones portáteis.


Nachison explicou: 'as pessoas estarão fazendo vídeos constantemente (...) Não será uma atividade especial, será uma ação normal, como é agora escrever um e-mail'. 'Em vez de receber mensagens de texto em nossos telefones, receberemos mensagens em pequenos vídeos', falou.


Com essa idéia em mente, vários especialistas acreditam que os jornais como conhecemos poderão se transformar em algo do passado num futuro próximo. Em 2006, por exemplo, as redações americanas cortaram 18.000 postos de trabalho, 88% a mais que em 2005, quando 9.543 foram suprimidos. "A impressão pode estar morrendo", declarou à AFP Tom Rosenstiel, diretor do Projeto para a Excelência no Jornalismo, que anualmente publica um informe sobre a situação da imprensa nos Estados Unidos. "Não posso garantir que jornais ainda serão impressos daqui a 10 ou 15 anos", disse.


Na última conferência 'Nós, Imprensa', organizada pela Ifocos e que discute o estado da mídia, especialistas previram que os consumidores do futuro terão acesso a um aparelho flexível, fino e leve que servirá para acessar os meios e que poderá ser usado como um jornal, só que digital.


Na área econômica, se espera uma mudança dramática para a publicidade, já que os comerciais para a internet não são tão lucrativos como os impressos. 'Os ganhos de publicidade em uma página web é cerca de 30% do equivalente em um jornal', ressaltou Rosenstiel. 'Por cada dólar que ganho de um leitor de mídia impressa, só consigo 30 centavos se essa pessoa se tornar um leitor on-line', explicou.


A situação pode ser compensada quando o preço do acesso à internet e ao cabo for reajustado, afirmou. 'O tamanho das empresas de imprensa simplemente diminuirá', afirmou Nachison. 'Os lucros cairão e este será um desafio para o financiamento do jornalismo', acrescentou.


Polêmica


Os "bloggers" são os colunistas mais lidos, os pedestres com telefones celulares viraram fotógrafos e aqueles movidos por causas pessoais são especialistas na investigação: na era da internet, qualquer um pode ser um "jornalista cidadão".


Os sites que exibem vídeos, imagens e páginas pessoais são a prova desta florescente expansão. 'É um grupo enorme de pessoas que não tem nenhuma formação (em jornalismo), mas quer fazer parte das grandes discussões', disse a presidente da Sociedade Americana de Jornalistas Profissionais (SPJ, sigla em inglês), Christine Tatum.


Em dezembro passado, o gigante da Internet Yahoo! lançou o 'YouWitnessNews', um site que publica matérias de pessoas comuns, editadas por jornalistas profissionais. O site de notícias canadense 'NowPublic', criado há dois anos, 'conta' com mais de 60.000 'jornalistas' de 140 países. Tanto o 'YouWitnessNews' quanto o 'NowPublic' firmaram acordos com conhecidas agências de notícias para fornecimento de conteúdo e fotos.


Vários sites que exibem vídeos, como YouTube, Revver ou Bebo, tentam por todos os meios estimular as pessoas a alimentar suas páginas com notícias ou comentários. O site Revver até paga seus colaboradores com um percentual dos lucros obtidos com publicidade. 'Trata-se de pessoas comuns que foram testemunhas de coisas extraordinárias e querem compartilhá-las', explicou o fundador do NowPublic, Leonard Brody. 'Quando acontece alguma coisa, quem é mais confiável: um jornalista ou editor, ou milhares de pessoas?', provocou.


Seis meses atrás, estes 'jornalistas cidadãos' foram os únicos a mostrar imagens do golpe de Estado na Tailândia à rede CNN. Durante os atentados de Londres em 2005, as primeiras imagens que alimentaram a internet foram capturadas pelos celulares dos pedestres. 'O jornalismo cidadão seduz enormemente os jornais', afirmou Mark Fitzgerald, da publicação especializada em mídia 'Editor and Publisher'. 'Um dos aspectos que mais atraem os jornais é que os jovens que não são leitores de jornais se sintam tentados pela idéia de serem publicados e serem parte de um jornal', acrescentou.


A agência de imprensa financeira Dow Jones teve de incorporar 'blogs' em seu site on-line, muito a contragosto, temendo perder sua reputada confiabilidade, disse o chefe do site Marketwatch.com, Bambi Francisco. 'Do ponto de vista editorial, eles se negavam a fazê-lo, mas do ponto de vista financeiro viram que tinham de fazer isso, porque iria significar mais visitas a sua página', justificou Francisco, durante uma coletiva de imprensa sobre jornalismo digital, em março, em Los Angeles. 'O conteúdo fornecido pelos usuários gera lucros', destacou.


Esta sedutora tendência tem, porém, um gosto amargo para os veículos mais tradicionais, comentou Andrew Keen, autor do livro 'The cult of the amateur: how today's Internet is killing our culture' (O culto do amador: como a Internet de hoje está matando nossa cultura, numa tradução livre), que será lançado em junho.


Keen ressalta que ele não confia nesta chuva de opiniões, fotos e vídeos on-line. 'Não me inspira confiança', sentenciou, em conversa com a AFP. 'O pêndulo se inclinou de uma maneira tão radical que agora qualquer pessoa acha que é um especialista. Você pode imaginar o que pode acontecer se os jornais desaparecerem e ficarmos entregues à blogosfera?', especulou.


Já para Christine Tatum, o 'grande problema é que muitas destas pessoas não têm nenhuma experiência (...) sobre as leis, nem os princípios fundamentais de um jornalismo sólido e responsável'. Em meio a tantas críticas, o especialista em mídia Leonard Brody diz que a era do jornalismo de 'fontes múltiplas' está apenas começando e vai evoluir para um trabalho em equipe, similar ao processo feito pela enciclopédia virtual Wikipedia. 'Pela primeira vez, as organizações monopólicas de notícias terminaram, desapareceram. Elas perderam a guerra'.


(Notícia publicada em cosmo.com.br)
(Imagem: webkrause)

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