quinta-feira, dezembro 06, 2007

O que todo mundo quer saber sobre a TV digital brasileira


Gabriel Priolli (foto) vem chamando a TV digital terrestre brasileira de "televisão secreta", porque quase ninguém viu. O jornalista publicou no Observatório da imprensa um texto, no estilo pergunta e resposta, para explicar o que a grande mídia não explicou.

Rebublico aqui parte do artigo:

"O Brasil está certo em adotar a TV Digital?

Sem sombra de dúvida. É uma tecnologia muito superior de transmissão de sinais de áudio e vídeo, que os países centrais já adotam desde o início da década, ou mesmo antes. Ela abre uma nova etapa na história da televisão e pode trazer enormes benefícios em termos de informação, entretenimento, educação e cidadania.

O Brasil fez o certo ao adotar o padrão japonês de TVD?

O padrão japonês, desenvolvido depois do americano e do europeu, é mais avançado e adapta-se melhor às condições brasileiras, sejam as sócio-econômicas, sejam as geográficas. Testes conduzidos por universidades (USP, Mackenzie), com apoio das emissoras, demonstraram isso. (...) O padrão japonês interessava mais às emissoras porque permite que elas transmitam diretamente para os celulares, sem passar pelas redes de telecomunicações. São elas que fazem o sinal chegar ao aparelho e não as teles. Com isso, as emissoras mantém o controle exclusivo de seu mercado.

O padrão de TVD que temos, afinal, é japonês ou nipo-brasileiro?

O governo adotou o sistema japonês, com inovações brasileiras – basicamente, o navegador Ginga e a compressão de imagens padrão MPEG-4. O sistema japonês puro não funciona aqui e não adianta trazer muamba nipônica do Paraguai. Portanto, não há propriamente um padrão "nipo-brasileiro", ao menos por enquanto. Há um padrão japonês e um brasileiro, que é o japonês adaptado. Os dois são únicos no mundo e adotados apenas em seus mercados. O que significa que não dá para importar nem exportar. Por isso, são mais caros que o americano e o europeu. E seguirão sendo, enquanto não conquistarem novos mercados.

O que, enfim, a TV digital brasileira oferecerá aos telespectadores?
Inicialmente, das grandes funcionalidades da TVD – alta definição, mobilidade/portabilidade, multiprogramação e interatividade – só está disponível a primeira. E apenas para consumidores que possam comprar conversores (set top boxes) dotados de HDTV, com custo superior a 1 mil reais, e que tenham telas de LCD ou plasma com 1080 linhas de resolução (a mais baratinha custa quase 8 mil reais). Ou seja: a elite da elite da elite dos telespectadores.

Quando serão introduzidas as demais funcionalidades da TV Digital?

A indústria eletrônica está prometendo dispositivos móveis e portáteis para o primeiro trimestre de 2008. Vamos ver se o preço, e não apenas o aparelho, cabe no bolso. Quanto ao celular com TV, não se anime muito. As teles comandam a produção desses equipamentos e, como não lucram nada com a TVD – ao contrário, porque fulano não telefona enquanto assiste TV, muito menos baixa vídeos, portanto não gera tráfego –, não haverá nenhuma farra de televisão no celular. É o que acontece no Japão, onde os dispositivos portáteis para recepção de TV abundam, mas não os celulares.

Quanto à interatividade, a melhor perspectiva é o final de 2008, quando estará pronto, supostamente, o navegador Ginga. Mas depende das emissoras se interessarem por oferecer produtos interativos em sua programação e não há maior entusiasmo nesse sentido. Elas acham que esse é um novo serviço, muito distinto do que fazem, e temem investir nele porque não têm modelo de negócio definido. Preferem fazer apenas o que sabem que dá dinheiro. Puro conservadorismo.

Já a multiprogramação poderia ser implantada rapidamente, se as emissoras tivessem interesse. Os investimentos não são muito altos. Mas as emissoras comerciais não querem, porque acham que haverá dispersão dos recursos publicitários por muitos canais e o cobertor será curto para todo mundo. Como apenas as emissoras educativas querem, para fazer canais de educação a distância, a indústria eletrônica não dotou os conversores de sintonia para multiprogramação. Também fica para o futuro. Indefinido.

Os preços da TV digital não vão cair com o tempo?

Certamente vão, mas em quanto tempo? Talvez leve anos. A indústria eletrônica diz que precisa ter ganhos de escala, portanto precisa vender para os primeiros consumidores por preços mais altos, para que outros comprem mais barato no futuro. Atualmente, como vimos, só a turma do Rolex pode comprar.

Mas essa turma já não tem TV por assinatura, que já é digital e que oferecerá HDTV a partir de janeiro? Vai comprar conversores digitais para quê? E se ela não comprar, como a indústria terá os ganhos de escala? É aqui que se explica a linha de financiamento de 1 bilhão de reais do BNDES, anunciada pelo presidente Lula na cerimônia de inauguração da TVD em São Paulo. O governo vai financiar as redes varejistas, para que elas ponham os preços dos aparelhos ao alcance da tigrada. Ou seja: o contribuinte é que garantirá o ganho de escala.

Os aparelhos que forem comprados agora serão usados por muito tempo?

Só se o consumidor se contentar apenas com a melhoria do som e da imagem. Quando as outras funcionalidades da TVD forem introduzidas, os conversores lançados agora no mercado não servirão para sintonizá-las. Será preciso comprar novos aparelhos. Que não terão escala em sua produção, portanto serão caros, portanto necessitarão de uma ajudinha financeira do BNDES, portanto será mais uma conta para o contribuinte pagar.

Enfim, o que fazer? Aderir ou não à TV digital?

Não foi o próprio ministro Hélio Costa, das Comunicações, que nos sugeriu aguardar, porque o governo segue trabalhando para que o conversor digital seja vendido a 200 reais? Então sejamos obedientes e pacientes, a menos que alguém aí tenha dinheiro para torrar. Mas, nesse caso, será provavelmente leitor de Exame ou de Caras, não deste Observatório da Imprensa."

Leia aqui o artigo completo.

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