Tenho trocado algumas impressões com colegas sobre o quem vem ocorrendo com o jornalismo. Gostaria de publicar aqui alguns trechos de um email que enviei para o amigo Ronald Mansur, da TV Globo/ES (TV Gazeta), para tornar essa discussão pública.
Segue o texto:
"O jornalismo que temos ainda em vigor, fruto das inovações do século XIX, ou seja, da Revolução Industrial e do ressurgimento das cidades e da necessidade de haver notícias econômicas e sociais, chegou ao fim após um reinado de menos de dois séculos.
A TV quebrou alguns paradigmas após a Segunda Guerra, pois sua linguagem abrangia algo além do jornalismo, no contexto da comunicação de massas. Era um anúncio do que viria. No entanto, o telejornalismo respeitava as normas construídas no século XIX, com a idéia de que o jornalismo era um bem comum e devia lutar por isso.
A TV quebrou alguns paradigmas após a Segunda Guerra, pois sua linguagem abrangia algo além do jornalismo, no contexto da comunicação de massas. Era um anúncio do que viria. No entanto, o telejornalismo respeitava as normas construídas no século XIX, com a idéia de que o jornalismo era um bem comum e devia lutar por isso.
Lógico que sempre ocorreram intervenções no fazer jornalismo, por parte dos donos da imprensa, mas nada tão explícito como hoje, pois as antigas gerações castigadas pelas Guerras, no caso da Europa, ou pelas governos ditatoriais, no caso da América e também de alguns países europeus, mantinha uma massa atenta às movimentações sociais.
Mas, com o surgimento da Internet e a consolidação do império norte-americano, com sua cultura do descartável, do agora, da novidade que vende e deixa de ser novidade momentos depois, trouxe uma mudança estrutural da base social para a econômica. Não me surpreende quando vejo pessoas tirarem dos jornais os encartes de ofertas e descartarem as notícias. Ou então passarem as páginas das construções críticas e irem diretamente para as colunas e manchetes esportivas.
As bandeiras acabaram porque o oposto não é provocante. O inimigo não é claro e não se manifesta na forma de força contrária, como ocorreu no Brasil após o golpe de 64, por exemplo. O inimigo se manifesta como amigo e quando as pessoas dão conta ele já está instalado no sofá da sala. O ovo da serpende germina de forma alegre e descontraída, sem provocar algum tipo de reação, porque é um ovo muito bonito e as serpentes são divertidas. Mas elas mordem e já refletem, sobretudo no Brasil, o fim do bom senso.
Mas, com o surgimento da Internet e a consolidação do império norte-americano, com sua cultura do descartável, do agora, da novidade que vende e deixa de ser novidade momentos depois, trouxe uma mudança estrutural da base social para a econômica. Não me surpreende quando vejo pessoas tirarem dos jornais os encartes de ofertas e descartarem as notícias. Ou então passarem as páginas das construções críticas e irem diretamente para as colunas e manchetes esportivas.
As bandeiras acabaram porque o oposto não é provocante. O inimigo não é claro e não se manifesta na forma de força contrária, como ocorreu no Brasil após o golpe de 64, por exemplo. O inimigo se manifesta como amigo e quando as pessoas dão conta ele já está instalado no sofá da sala. O ovo da serpende germina de forma alegre e descontraída, sem provocar algum tipo de reação, porque é um ovo muito bonito e as serpentes são divertidas. Mas elas mordem e já refletem, sobretudo no Brasil, o fim do bom senso.
Estamos num vácuo do tempo onde o novo mundo que surgirá será completamente diferente daquele que já foi. É um marco histórico, como os que culminaram com a queda do Imperio Romano e o nascimento do mundo feudal, depois o fim do feudalismo com o Renascimento e as grandes navegações.
O vácuo é difícil de tatear porque é o fim de uma era e o início de outra, ou seja, é nada. O Umberto Eco escreveu um novo livro, já lançado em Portugal, chamado "A Passo de Caranguejo". A obra mostra um retorno a alguns valores que já eram dados como mortos, que foram sepultados e depois consolidados como historicamente acabados a partir da revolução moral dos anos 60. Estamos voltando ao passado, apesar das grandes evoluções tecnológicas.
E essas evoluções tecnológicas criam ainda um novo mundo formado por bits, onde grande parte do mundo físico está excluída. E neste espaço virtual as relações não têm fronteiras e são anárquicas.
Qual será a bandeira da futura geração? A bandeira que a minha geração segurou, do consumo desmedido de tudo que é coisa, sejam relações ou coisas materiais, não pode realmente ser considerada uma bandeira.
Para aonde vamos e onde fica o bom e velho jornalismo?"
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