Estarei em recesso por alguns dias. Volto em 2008 para dar prosseguimento às análises deste ponto, que completará, dentro de alguns meses, quatro anos de existência.
A mensagem de ano novo que deixo é da minha conterrânea capixaba, Elisa Lucinda, que traduziu no poema Libação, o espírito dos tempos que começam. Feliz 2008!
Libação
É do nascedouro da vida a grandeza.
É da sua natureza a fartura
a ploriferação
os cromossomiais encontros,
os brotos
os processos caules,
os processos sementes
os processos troncos,
os processos flores,
são suas mais finas dores
As conseqüências cachos,
as conseqüências leite,
as conseqüências folhas
as conseqüências frutos,
são suas cores mais belas
É da substância do átomo
ser partível produtivo ativo e gerador
Tudo é no seu âmago e início,
patrício da riqueza, solstício da realeza
É da vocação da vida a beleza
e a nós cabe não diminuí-la, não roê-la
com nossos minúsculos gestos ratos
nossos fatos apinhados de pequenezas,
cabe a nós enchê-la,
cheio que é o seu princípio
Todo vazio é grávido desse benevolente risco
todo presente é guarnecido
do estado potencial de futuro
Peço ao ano-novo
aos deuses do calendário
aos orixás das transformações:
nos livrem do infértil da ninharia
nos protejam da vaidade burra
da vaidade "minha" desumana sozinha
Nos livrem da ânsia voraz
daquilo que ao nos aumentar
nos amesquinha.
A vida não tem ensaio
mas tem novas chances
Viva a burilação eterna, a possibilidade:
o esmeril dos dissabores!
Abaixo o estéril arrependimento
a duração inútil dos rancores
Um brinde ao que está sempre nas nossas mãos:
a vida inédita pela frente
e a virgindade dos dias que virão!
quarta-feira, dezembro 26, 2007
segunda-feira, dezembro 24, 2007
sexta-feira, dezembro 21, 2007
Curta às sextas: Os Fiéis
O futebol invade a tela do Ponto de Análises em forma de curta. O filme se passa no Rio de Janeiro, em 1976. É a Final do Brasileirão entre Fluminense e Corinthians. Com bandeiras do timão, kombis furrecas e radinhos de pilha, uma multidão de paulistas invade o Maraca e nos leva direto para o túnel do tempo!
Link: Os Fiéis
Sinopse: Três amigos contam as aventuras vividas durante uma famosa partida de futebol. Lembranças, a euforia e a sensação de viverem um momento histórico.
Link: Os Fiéis
Sinopse: Três amigos contam as aventuras vividas durante uma famosa partida de futebol. Lembranças, a euforia e a sensação de viverem um momento histórico.
quinta-feira, dezembro 20, 2007
A preferência do The New York Times pelo online
O The New York Times rompeu uma tradição e publicou na Internet uma reportagem preparada para ser a principal do jornal impresso. Era um perfil do pré-candidato republicano Mike Huckabee.
Carlos Castilho faz uma excelente análise sobre o tema. Aliás, o Castilho é um dos analistas que mais tenho prazer em ler. Seu blog Código Aberto é imperdível. Ele conclui ainda que:
"Os jornais impressos têm salvação. A questão é como ela será alcançada. Está na hora de os jornais impressos começarem a pensar seriamente em novas estratégias editoriais e modelos de negócios. As incertezas são muitas, os riscos enormes, mas uma coisa parece certa: sejam quais forem as alternativas escolhidas, elas terão que contemplar uma maior participação dos leitores na produção de material jornalístico."
Leia mais aqui.
Carlos Castilho faz uma excelente análise sobre o tema. Aliás, o Castilho é um dos analistas que mais tenho prazer em ler. Seu blog Código Aberto é imperdível. Ele conclui ainda que:
"Os jornais impressos têm salvação. A questão é como ela será alcançada. Está na hora de os jornais impressos começarem a pensar seriamente em novas estratégias editoriais e modelos de negócios. As incertezas são muitas, os riscos enormes, mas uma coisa parece certa: sejam quais forem as alternativas escolhidas, elas terão que contemplar uma maior participação dos leitores na produção de material jornalístico."
Leia mais aqui.
Notícias de hoje em dia
quarta-feira, dezembro 19, 2007
Os vencedores do Prêmio Esso
Saiu o resultado do Prêmio Esso de Jornalismo 2007. Confira aqui os ganhadores.
segunda-feira, dezembro 17, 2007
Os melhores blogs portugueses de 2007
Recebi uma notícia que me deixou surpreso: o blog que acompanha a elaboração da minha tese de doutorado na Universidade do Minho, em Portugal, foi classificado como o 8º melhor do país na categoria media, no concurso "O Melhor Blog Português 2007".
O blog, chamado TV Digital em Portugal, foi criado em abril e é onde publico algumas observações sobre os processos que envolvem o pré-lançamento da TDT portuguesa, cujas transmissões devem começar em 2008, e também onde escrevo sobre as inovações na área da televisão digital em todo mundo.
Deixo aqui o meu muito obrigado pelo reconhecimento.
O blog, chamado TV Digital em Portugal, foi criado em abril e é onde publico algumas observações sobre os processos que envolvem o pré-lançamento da TDT portuguesa, cujas transmissões devem começar em 2008, e também onde escrevo sobre as inovações na área da televisão digital em todo mundo.
Deixo aqui o meu muito obrigado pelo reconhecimento.
quinta-feira, dezembro 13, 2007
O fim das bandeiras do jornalismo e da sociedade
Tenho trocado algumas impressões com colegas sobre o quem vem ocorrendo com o jornalismo. Gostaria de publicar aqui alguns trechos de um email que enviei para o amigo Ronald Mansur, da TV Globo/ES (TV Gazeta), para tornar essa discussão pública.
Segue o texto:
"O jornalismo que temos ainda em vigor, fruto das inovações do século XIX, ou seja, da Revolução Industrial e do ressurgimento das cidades e da necessidade de haver notícias econômicas e sociais, chegou ao fim após um reinado de menos de dois séculos.
A TV quebrou alguns paradigmas após a Segunda Guerra, pois sua linguagem abrangia algo além do jornalismo, no contexto da comunicação de massas. Era um anúncio do que viria. No entanto, o telejornalismo respeitava as normas construídas no século XIX, com a idéia de que o jornalismo era um bem comum e devia lutar por isso.
A TV quebrou alguns paradigmas após a Segunda Guerra, pois sua linguagem abrangia algo além do jornalismo, no contexto da comunicação de massas. Era um anúncio do que viria. No entanto, o telejornalismo respeitava as normas construídas no século XIX, com a idéia de que o jornalismo era um bem comum e devia lutar por isso.
Lógico que sempre ocorreram intervenções no fazer jornalismo, por parte dos donos da imprensa, mas nada tão explícito como hoje, pois as antigas gerações castigadas pelas Guerras, no caso da Europa, ou pelas governos ditatoriais, no caso da América e também de alguns países europeus, mantinha uma massa atenta às movimentações sociais.
Mas, com o surgimento da Internet e a consolidação do império norte-americano, com sua cultura do descartável, do agora, da novidade que vende e deixa de ser novidade momentos depois, trouxe uma mudança estrutural da base social para a econômica. Não me surpreende quando vejo pessoas tirarem dos jornais os encartes de ofertas e descartarem as notícias. Ou então passarem as páginas das construções críticas e irem diretamente para as colunas e manchetes esportivas.
As bandeiras acabaram porque o oposto não é provocante. O inimigo não é claro e não se manifesta na forma de força contrária, como ocorreu no Brasil após o golpe de 64, por exemplo. O inimigo se manifesta como amigo e quando as pessoas dão conta ele já está instalado no sofá da sala. O ovo da serpende germina de forma alegre e descontraída, sem provocar algum tipo de reação, porque é um ovo muito bonito e as serpentes são divertidas. Mas elas mordem e já refletem, sobretudo no Brasil, o fim do bom senso.
Mas, com o surgimento da Internet e a consolidação do império norte-americano, com sua cultura do descartável, do agora, da novidade que vende e deixa de ser novidade momentos depois, trouxe uma mudança estrutural da base social para a econômica. Não me surpreende quando vejo pessoas tirarem dos jornais os encartes de ofertas e descartarem as notícias. Ou então passarem as páginas das construções críticas e irem diretamente para as colunas e manchetes esportivas.
As bandeiras acabaram porque o oposto não é provocante. O inimigo não é claro e não se manifesta na forma de força contrária, como ocorreu no Brasil após o golpe de 64, por exemplo. O inimigo se manifesta como amigo e quando as pessoas dão conta ele já está instalado no sofá da sala. O ovo da serpende germina de forma alegre e descontraída, sem provocar algum tipo de reação, porque é um ovo muito bonito e as serpentes são divertidas. Mas elas mordem e já refletem, sobretudo no Brasil, o fim do bom senso.
Estamos num vácuo do tempo onde o novo mundo que surgirá será completamente diferente daquele que já foi. É um marco histórico, como os que culminaram com a queda do Imperio Romano e o nascimento do mundo feudal, depois o fim do feudalismo com o Renascimento e as grandes navegações.
O vácuo é difícil de tatear porque é o fim de uma era e o início de outra, ou seja, é nada. O Umberto Eco escreveu um novo livro, já lançado em Portugal, chamado "A Passo de Caranguejo". A obra mostra um retorno a alguns valores que já eram dados como mortos, que foram sepultados e depois consolidados como historicamente acabados a partir da revolução moral dos anos 60. Estamos voltando ao passado, apesar das grandes evoluções tecnológicas.
E essas evoluções tecnológicas criam ainda um novo mundo formado por bits, onde grande parte do mundo físico está excluída. E neste espaço virtual as relações não têm fronteiras e são anárquicas.
Qual será a bandeira da futura geração? A bandeira que a minha geração segurou, do consumo desmedido de tudo que é coisa, sejam relações ou coisas materiais, não pode realmente ser considerada uma bandeira.
Para aonde vamos e onde fica o bom e velho jornalismo?"
quarta-feira, dezembro 12, 2007
Curta brasileiro é o melhor do YouTube e vai para o Sundance Festival
A única produção brasileira que estará no festival Sundance, que acontece nos EUA entre os dias 17 e 27 de janeiro, é o curta "Laços", de Flávia Lacerda. O trabalho será exibido porque ganhou o concurso internacional de curtas do YouTube, onde participaram 3 mil e 600 produções dos EUA, Brasil, Canadá, França, Itália, Espanha e Reino Unido. O filme custou cerca de 1.500 reais e tem seis minutos e 43 segundos. Foi feito em em cinco dias.
O Ponto de Análises, que adora curtas-metragens, disponibiliza o filme para que você possa conferir. E viva a Flávia Lacerda!
O Ponto de Análises, que adora curtas-metragens, disponibiliza o filme para que você possa conferir. E viva a Flávia Lacerda!
segunda-feira, dezembro 10, 2007
Escola de Samba Mocidade homenageia Portugal
Portugal mais uma vez será tema de uma escola de samba do Rio de Janeiro. Desta vez é a Mocidade Independente de Padre Miguel que vai homenagiar o país durante o carnaval. O tema foi inspirado nos 200 anos da chegada da Corte ao Brasil. O samba-enredo tem como título "O Quinto Império: De Portugal ao Brasil, Uma Utopia Na História".
A letra diz o seguinte:
Portugal... Bendito seja!
Abençoado pelo criador
Uma utopia, um destino, um sonho
Místico, de grandes realezas
Sonhar... Com glórias um rei desejar
E o sol volta a brilhar
Com a esperança no olhar
Mas desapareceu, como um grão de areia no deserto
E “encantado renasceu” em cada ser, em cada coração
Para afastar a cobiça, na busca do ideal:
O quinto império universal
Deixa o meu samba te levar
E a minha estrela te guiar
À praia dos Lençóis, nas crenças do Maranhão
Tem um castelo, que é do Rei Sebastião
No Rio de Janeiro aportaram caravelas
Trazendo a família real
Progresso em cores combinadas
Debret retratava a transformação
Nas terras tropicais do meu brasil
A herança... A dor, o mito “ressurgiu”
Eis o guerreiro sebastiano“o mais ufano dos lusitanos”
Em verde-e-branco
Que traz no peito uma estrela a brilhar
De norte a sul desta nação
Faz a manifestação popular
Minha Mocidade... Guerreira
Traz a igualdade, justiça e paz
Hoje o Quinto Império é brasileiro (Amor)
Canta Mocidade... canta!
Para ouvir o samba, clique aqui.
sexta-feira, dezembro 07, 2007
Curta às sextas: Praxedes, um Espermatozóide
O filme de hoje é uma animação vencedora do Prêmio Júri Porta Curtas no FIAE - Festival de Animação Erótica 2007. Direção de Bruno Rocha Maron. Bom fim de semana!
Praxedes, um Espermatozóide
Praxedes, um Espermatozóide
Sinopse: Praxedes é um espermatozóide humanizado exercendo seu papel de cidadão comum. Ele acorda e tenta fazer o que todos os outros espermatozóides tentam: fecundar o óvulo. Ele acorda todo os dias com esse objetivo e sabe que não é nada fácil...
Metacobertura
O jornalista Rafael Paes, mestrando em Informação e Jornalismo na Universidade do Minho, acaba de estrear seu blog "Metacobertura". O blog dedica-se a analisar o jornalismo feito no Espírito Santo.
Segundo Rafael, "para se compreender o modo como hoje nos relacionamos e entendemos a realidade, faz-se necessário acompanhar os meios de comunicação, seus produtos e procedimentos".
É com essa proposta que nasce mais um interessante espaço na blogosfera. Seja bem-vindo!
Segundo Rafael, "para se compreender o modo como hoje nos relacionamos e entendemos a realidade, faz-se necessário acompanhar os meios de comunicação, seus produtos e procedimentos".
É com essa proposta que nasce mais um interessante espaço na blogosfera. Seja bem-vindo!
quinta-feira, dezembro 06, 2007
O que todo mundo quer saber sobre a TV digital brasileira
Gabriel Priolli (foto) vem chamando a TV digital terrestre brasileira de "televisão secreta", porque quase ninguém viu. O jornalista publicou no Observatório da imprensa um texto, no estilo pergunta e resposta, para explicar o que a grande mídia não explicou.
Rebublico aqui parte do artigo:
"O Brasil está certo em adotar a TV Digital?
Sem sombra de dúvida. É uma tecnologia muito superior de transmissão de sinais de áudio e vídeo, que os países centrais já adotam desde o início da década, ou mesmo antes. Ela abre uma nova etapa na história da televisão e pode trazer enormes benefícios em termos de informação, entretenimento, educação e cidadania.
O Brasil fez o certo ao adotar o padrão japonês de TVD?
O padrão japonês, desenvolvido depois do americano e do europeu, é mais avançado e adapta-se melhor às condições brasileiras, sejam as sócio-econômicas, sejam as geográficas. Testes conduzidos por universidades (USP, Mackenzie), com apoio das emissoras, demonstraram isso. (...) O padrão japonês interessava mais às emissoras porque permite que elas transmitam diretamente para os celulares, sem passar pelas redes de telecomunicações. São elas que fazem o sinal chegar ao aparelho e não as teles. Com isso, as emissoras mantém o controle exclusivo de seu mercado.
O padrão de TVD que temos, afinal, é japonês ou nipo-brasileiro?
O governo adotou o sistema japonês, com inovações brasileiras – basicamente, o navegador Ginga e a compressão de imagens padrão MPEG-4. O sistema japonês puro não funciona aqui e não adianta trazer muamba nipônica do Paraguai. Portanto, não há propriamente um padrão "nipo-brasileiro", ao menos por enquanto. Há um padrão japonês e um brasileiro, que é o japonês adaptado. Os dois são únicos no mundo e adotados apenas em seus mercados. O que significa que não dá para importar nem exportar. Por isso, são mais caros que o americano e o europeu. E seguirão sendo, enquanto não conquistarem novos mercados.
O que, enfim, a TV digital brasileira oferecerá aos telespectadores?
Inicialmente, das grandes funcionalidades da TVD – alta definição, mobilidade/portabilidade, multiprogramação e interatividade – só está disponível a primeira. E apenas para consumidores que possam comprar conversores (set top boxes) dotados de HDTV, com custo superior a 1 mil reais, e que tenham telas de LCD ou plasma com 1080 linhas de resolução (a mais baratinha custa quase 8 mil reais). Ou seja: a elite da elite da elite dos telespectadores.
Quando serão introduzidas as demais funcionalidades da TV Digital?
A indústria eletrônica está prometendo dispositivos móveis e portáteis para o primeiro trimestre de 2008. Vamos ver se o preço, e não apenas o aparelho, cabe no bolso. Quanto ao celular com TV, não se anime muito. As teles comandam a produção desses equipamentos e, como não lucram nada com a TVD – ao contrário, porque fulano não telefona enquanto assiste TV, muito menos baixa vídeos, portanto não gera tráfego –, não haverá nenhuma farra de televisão no celular. É o que acontece no Japão, onde os dispositivos portáteis para recepção de TV abundam, mas não os celulares.
Quanto à interatividade, a melhor perspectiva é o final de 2008, quando estará pronto, supostamente, o navegador Ginga. Mas depende das emissoras se interessarem por oferecer produtos interativos em sua programação e não há maior entusiasmo nesse sentido. Elas acham que esse é um novo serviço, muito distinto do que fazem, e temem investir nele porque não têm modelo de negócio definido. Preferem fazer apenas o que sabem que dá dinheiro. Puro conservadorismo.
Já a multiprogramação poderia ser implantada rapidamente, se as emissoras tivessem interesse. Os investimentos não são muito altos. Mas as emissoras comerciais não querem, porque acham que haverá dispersão dos recursos publicitários por muitos canais e o cobertor será curto para todo mundo. Como apenas as emissoras educativas querem, para fazer canais de educação a distância, a indústria eletrônica não dotou os conversores de sintonia para multiprogramação. Também fica para o futuro. Indefinido.
Os preços da TV digital não vão cair com o tempo?
Certamente vão, mas em quanto tempo? Talvez leve anos. A indústria eletrônica diz que precisa ter ganhos de escala, portanto precisa vender para os primeiros consumidores por preços mais altos, para que outros comprem mais barato no futuro. Atualmente, como vimos, só a turma do Rolex pode comprar.
Mas essa turma já não tem TV por assinatura, que já é digital e que oferecerá HDTV a partir de janeiro? Vai comprar conversores digitais para quê? E se ela não comprar, como a indústria terá os ganhos de escala? É aqui que se explica a linha de financiamento de 1 bilhão de reais do BNDES, anunciada pelo presidente Lula na cerimônia de inauguração da TVD em São Paulo. O governo vai financiar as redes varejistas, para que elas ponham os preços dos aparelhos ao alcance da tigrada. Ou seja: o contribuinte é que garantirá o ganho de escala.
Os aparelhos que forem comprados agora serão usados por muito tempo?
Só se o consumidor se contentar apenas com a melhoria do som e da imagem. Quando as outras funcionalidades da TVD forem introduzidas, os conversores lançados agora no mercado não servirão para sintonizá-las. Será preciso comprar novos aparelhos. Que não terão escala em sua produção, portanto serão caros, portanto necessitarão de uma ajudinha financeira do BNDES, portanto será mais uma conta para o contribuinte pagar.
Enfim, o que fazer? Aderir ou não à TV digital?
Não foi o próprio ministro Hélio Costa, das Comunicações, que nos sugeriu aguardar, porque o governo segue trabalhando para que o conversor digital seja vendido a 200 reais? Então sejamos obedientes e pacientes, a menos que alguém aí tenha dinheiro para torrar. Mas, nesse caso, será provavelmente leitor de Exame ou de Caras, não deste Observatório da Imprensa."
Leia aqui o artigo completo.
Rebublico aqui parte do artigo:
"O Brasil está certo em adotar a TV Digital?
Sem sombra de dúvida. É uma tecnologia muito superior de transmissão de sinais de áudio e vídeo, que os países centrais já adotam desde o início da década, ou mesmo antes. Ela abre uma nova etapa na história da televisão e pode trazer enormes benefícios em termos de informação, entretenimento, educação e cidadania.
O Brasil fez o certo ao adotar o padrão japonês de TVD?
O padrão japonês, desenvolvido depois do americano e do europeu, é mais avançado e adapta-se melhor às condições brasileiras, sejam as sócio-econômicas, sejam as geográficas. Testes conduzidos por universidades (USP, Mackenzie), com apoio das emissoras, demonstraram isso. (...) O padrão japonês interessava mais às emissoras porque permite que elas transmitam diretamente para os celulares, sem passar pelas redes de telecomunicações. São elas que fazem o sinal chegar ao aparelho e não as teles. Com isso, as emissoras mantém o controle exclusivo de seu mercado.
O padrão de TVD que temos, afinal, é japonês ou nipo-brasileiro?
O governo adotou o sistema japonês, com inovações brasileiras – basicamente, o navegador Ginga e a compressão de imagens padrão MPEG-4. O sistema japonês puro não funciona aqui e não adianta trazer muamba nipônica do Paraguai. Portanto, não há propriamente um padrão "nipo-brasileiro", ao menos por enquanto. Há um padrão japonês e um brasileiro, que é o japonês adaptado. Os dois são únicos no mundo e adotados apenas em seus mercados. O que significa que não dá para importar nem exportar. Por isso, são mais caros que o americano e o europeu. E seguirão sendo, enquanto não conquistarem novos mercados.
O que, enfim, a TV digital brasileira oferecerá aos telespectadores?
Inicialmente, das grandes funcionalidades da TVD – alta definição, mobilidade/portabilidade, multiprogramação e interatividade – só está disponível a primeira. E apenas para consumidores que possam comprar conversores (set top boxes) dotados de HDTV, com custo superior a 1 mil reais, e que tenham telas de LCD ou plasma com 1080 linhas de resolução (a mais baratinha custa quase 8 mil reais). Ou seja: a elite da elite da elite dos telespectadores.
Quando serão introduzidas as demais funcionalidades da TV Digital?
A indústria eletrônica está prometendo dispositivos móveis e portáteis para o primeiro trimestre de 2008. Vamos ver se o preço, e não apenas o aparelho, cabe no bolso. Quanto ao celular com TV, não se anime muito. As teles comandam a produção desses equipamentos e, como não lucram nada com a TVD – ao contrário, porque fulano não telefona enquanto assiste TV, muito menos baixa vídeos, portanto não gera tráfego –, não haverá nenhuma farra de televisão no celular. É o que acontece no Japão, onde os dispositivos portáteis para recepção de TV abundam, mas não os celulares.
Quanto à interatividade, a melhor perspectiva é o final de 2008, quando estará pronto, supostamente, o navegador Ginga. Mas depende das emissoras se interessarem por oferecer produtos interativos em sua programação e não há maior entusiasmo nesse sentido. Elas acham que esse é um novo serviço, muito distinto do que fazem, e temem investir nele porque não têm modelo de negócio definido. Preferem fazer apenas o que sabem que dá dinheiro. Puro conservadorismo.
Já a multiprogramação poderia ser implantada rapidamente, se as emissoras tivessem interesse. Os investimentos não são muito altos. Mas as emissoras comerciais não querem, porque acham que haverá dispersão dos recursos publicitários por muitos canais e o cobertor será curto para todo mundo. Como apenas as emissoras educativas querem, para fazer canais de educação a distância, a indústria eletrônica não dotou os conversores de sintonia para multiprogramação. Também fica para o futuro. Indefinido.
Os preços da TV digital não vão cair com o tempo?
Certamente vão, mas em quanto tempo? Talvez leve anos. A indústria eletrônica diz que precisa ter ganhos de escala, portanto precisa vender para os primeiros consumidores por preços mais altos, para que outros comprem mais barato no futuro. Atualmente, como vimos, só a turma do Rolex pode comprar.
Mas essa turma já não tem TV por assinatura, que já é digital e que oferecerá HDTV a partir de janeiro? Vai comprar conversores digitais para quê? E se ela não comprar, como a indústria terá os ganhos de escala? É aqui que se explica a linha de financiamento de 1 bilhão de reais do BNDES, anunciada pelo presidente Lula na cerimônia de inauguração da TVD em São Paulo. O governo vai financiar as redes varejistas, para que elas ponham os preços dos aparelhos ao alcance da tigrada. Ou seja: o contribuinte é que garantirá o ganho de escala.
Os aparelhos que forem comprados agora serão usados por muito tempo?
Só se o consumidor se contentar apenas com a melhoria do som e da imagem. Quando as outras funcionalidades da TVD forem introduzidas, os conversores lançados agora no mercado não servirão para sintonizá-las. Será preciso comprar novos aparelhos. Que não terão escala em sua produção, portanto serão caros, portanto necessitarão de uma ajudinha financeira do BNDES, portanto será mais uma conta para o contribuinte pagar.
Enfim, o que fazer? Aderir ou não à TV digital?
Não foi o próprio ministro Hélio Costa, das Comunicações, que nos sugeriu aguardar, porque o governo segue trabalhando para que o conversor digital seja vendido a 200 reais? Então sejamos obedientes e pacientes, a menos que alguém aí tenha dinheiro para torrar. Mas, nesse caso, será provavelmente leitor de Exame ou de Caras, não deste Observatório da Imprensa."
Leia aqui o artigo completo.
segunda-feira, dezembro 03, 2007
A estréia da TV digital terrestre brasileira
A entrada do Brasil na era da TV digital terrestre no último domingo passou despercebida para o telespectador, em termos de acesso à tecnologia. Apesar do grande alarde e da formação de uma cadeia nacional para anunciar a novidade, por enquanto apenas os moradores da grande São Paulo podem ter acesso à TDT.
As outras capitais iniciarão as transmissões até 2009 e as demais cidades do país até 2013.
Mas mesmo entre os paulistanos, que têm o serviço disponível, o acesso à TV digital requer um bom investimento. O conversor que permite a recepção do sinal digital custa entre 500 e mil reais (entre 185 e 370 euros). Algo inacessível para a maior parte da população.
O presidente Lula promete recursos para subsidiar a compra dos conversores. Um passo que terá que ser dado para que a TDT realmente se firme no Brasil.
Na verdade é apenas o início de uma longa caminhada, que representa uma evolução da televisão. É preciso que a população entenda o que muda, perceba quais vantagens terá com a TDT e decida aderir aos serviços, para que o governo possa começar a planejar de forma séria e cabal o apagão analógico.
Mas, ao avaliarmos a estréia da TDT, é facil prever que serão precisos muitos e muitos anos para o Brasil realmente poder dizer que entrou na era da TV digital.
De qualquer forma, é um bom motivo para comemorarmos.
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